Empreender sempre esteve na minha essência, mesmo antes de saber o que era de fato. Não venho de uma família onde o empreendedorismo esteve presente, mas a liberdade que o “empreender” me remetia me conquistou desde a infância, já sonhava em ter algo meu onde eu pudesse fazer diferença de alguma forma, além disso o estilo de vida me fascinava, a possibilidade de montar meus horários, minha rotina, meu espaço me enchia os olhos ainda mais poder realizar isso com os meus próprios resultados financeiros, depois enxerguei o potencial financeiro, entendi que no empreendedorismo a real possibilidade de escalar um negócio está muito presente, o que dificilmente se consegue sendo CLT.
Eu acredito que todo mundo passa por momentos decisivos ao longo da vida, que define e nos faz enxergar a nossa essência, comigo não foi diferente, o maior entre os meus vividos até hoje foi sem dúvida no momento em que descobri que estava grávida, algo que era um sonho na minha vida, mas que não tinha planos reais ainda de concretizá-lo. No momento em que descobri o positivo, entendi que minha vida mudaria em todos os âmbitos, ainda não sabia como, mas mudaria.
Mesmo formada em engenharia de produção e trabalhando na área, nunca me senti plena e realizada na dentro da engenharia, sabia que tinha algo que faltava. O processo de transição de carreira foi longo, mais de um ano e muito tenso, fui obrigada a amadurecer muito, tanto quanto o bebê que eu gerava! Após minha licença maternidade, depois de 4 meses, eu tinha certeza de que não queria mais aquele dia a dia pra mim, a liberdade, principalmente de horários era o que eu procurava, já que meu maior desejo era estar próximo do meu filho em todos os momentos. Sempre tive pra mim que a primeira infância de uma criança, passa muito rápido e que sem dúvidas é a fase de maior importância na formação de um indivíduo. Coloquei pra mim que aquele momento, formar um individuo integro, feliz e saudável seria meu projeto de vida, após 6 meses do meu retorno, fugindo e negando esse meu desejo, decidi sair do CLT, saí sem plano de ação, muito menos plano B, o que eu não recomendo para ninguém, isso deixaram as coisas bem mais intensas, porém também despertou rapidamente algo dentro de mim, onde entendi que criar meu filho era meu maior projeto de vida, mas que não poderia ser só ele, eu tinha necessidade de levar esse desejo de entender mais sobre a infância para outras pessoas, foi quando conheci a locação de produtos infantis e percebi que ali havia uma oportunidade perfeita, não apenas de democratizar o uso dos melhores produtos infantis do mercado, mas principalmente de aumentar a percepção da importância que é respeitar as fases de uma criança e suas singularidades.
Desenvolvendo o modelo de negócio do que futuramente seria a Túnel do Brinquedo eu entendi que ali eu teria a chance perfeita de unir o meu dia a dia como mãe de uma criança pequena, não apenas na flexibilidade da rotina, mas principalmente nos estudos e percepções que o negócio exigia, meu estudo diário era estar atenta as fases do meu filho e entender as reais necessidades dele, depois estruturá-las e entregar um serviço de excelência por meio da locação, no qual atenda da melhor forma as mães e suas demandas.
Os desafios de conciliar empreendedorismo e maternidade
De início a maior dificuldade do negócio era apresentar uma nova forma de consumo, diferente do que todos estavam acostumados, ainda mais tratando da cultura do brasileiro onde o “ter” por muitos anos era sinônimo de sucesso, e no mercado infantil não era diferente, o poder econômico e auto afirmação das famílias em poder comprar e proporcionar o que há de melhor para seu filho era como se fosse uma confirmação de que tudo deu certo, viemos de uma cultura em que fazer enxoval no exterior e comprar milhões de itens, mesmo sem saber se realmente haverá necessidade foi por muito tempo tido como item de desejo. Então apresentar um novo modelo de economia circular, onde o compartilhamento tem como principal característica adquirir não o produto em si, mas sim sua função foi um grande desafio.
Além disso, temos o que eu chamo de “cliente mais exigente do mundo”, já que nossos produtos são destinados ao maior bem da vida desses pais: seus filhos. Como se ainda não bastasse, filhos na maioria das vezes recém-nascidos, em meio de um contexto no qual há uma nova estrutura familiar se formando, junto com todos seus desafios e medos, demonstrar que a locação era uma forma segura foi desafiador, tínhamos como missão mostrar que os produtos que chegariam nas casas de nossas clientes eram extremamente de qualidade, com uma higienização rigorosa e muito confiáveis. Isso se perdurou e acirrou ainda mais pós-período de pandemia, como já havíamos criado condutas de assepsia e higienização, o novo momento não impactou em nossos negócios, muito pelo contrário, as mães nos viam como aliados naquele momento.
Empreender é por natureza desafiador, ter estabelecido quem será seu público, entender como ele se comporta e quais as reais necessidades e dores que existe é sem dúvida o maior desafio e também a maior chave para desenvolver um negócio estruturado e saudável.
Empreendedorismo materno no Brasil
Percebo que vem crescendo cada vez mais, por “n” motivos, mas creio que dois motivos sejam os principais, o primeiro a necessidade de ter uma rotina mais flexível para conseguir estar presente na educação e acompanhamento do seu filho, o que na maioria das vezes não é possível encontrar no modelo CLT, o outro extremo, é o entendimento e consciência da importância de manter uma carreira pós maternidade, muitas mães pensavam que para estar presente e criar filhos felizes e saudáveis era necessário abrir mão da sua vida profissional, mesmo que fosse por um período preestabelecido. Hoje entendo que há uma maior conscientização entre as mulheres de que isso de fato não é necessário. O empreendedorismo trouxe essa possibilidade que antes nem se cogitava e junto uma maior realização dessas mães.
De dois anos para cá, tenho recebido uma alta demanda de mães principalmente com o desejo de empreender no mercado da locação, tanto que desenvolvi uma mentoria onde formamos três turmas de mães que saíram aptas a abrirem suas próprias lojas de locação de produtos infantis, todas respeitando sua rotina e possibilidades.
Primeira coisa sem dúvida seria se identificar com aquilo que irá trabalhar, é obrigatório amar o universo em que você atuará, só assim você não irá desistir nos momentos de pressão e dificuldades, além disso eu acredito muito que só fazemos bem aquilo nos motiva, ou seja, a consistência em pesquisar, estudar, se inovar constantemente só ocorre quando você gosta do que faz.
Outra dica é seja curioso, não só em como desenvolver problemas, mas também quais problemas estão presentes na vida do seu público, acredito que um negócio só tem futuro próspero quando resolve uma dor de alguém e por muitas vezes nem mesmo o seu cliente tem consciência de onde dói.
Débora Chiari, CEO da Túnel do Brinquedo