Determinar o perfil do investidor é o ponto de partida para ser mais assertivo na escolha dos produtos financeiros e construir uma carteira de investimentos de acordo com os objetivos de quem investe. Os perfis conservador, moderado e arrojado possuem características distintas entre si, que levam em consideração quatro fundamentos: tolerância ao risco, situação financeira, conhecimento do mercado e objetivos, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA).
É muito comum que corretoras, bancos e profissionais autônomos realizem o diagnóstico do perfil investidor a partir de questionários compostos por perguntas sobre objetivos financeiros, conhecimento sobre investimentos e questões ligadas ao comportamento – importantes para identificar fatores que poderão influenciar nas tomadas de decisão, sobretudo em momentos de turbulência no cenário econômico. Também é importante checar se o cliente tem outros investimentos e saber em quais produtos ele fez aplicações. O economista e fundador da Eu me banco, Fábio Louzada, detalha quais são os perfis mais comuns entre os investidores e seus maiores erros na hora de investir:
Perfil conservador
O perfil conservador não gosta de correr riscos, principalmente se já teve uma experiência negativa em investimentos. Ele também prefere a segurança à alta rentabilidade, com preferência a investimentos com remuneração confortável, sem grandes riscos ou regras difíceis de assimilar. Em muitos casos, quanto maior a idade, mais conservador é o investidor.
Erros do conservador
Muitas vezes o perfil conservador tenta ganhar um pouco mais e acaba correndo riscos desnecessários. Por exemplo, ele sai de um CDB de banco para investir numa debênture de empresa, de olho em retornos mais lucrativos. No entanto, ele abre mão de ganhar 0,50% no CDB de olho no 0,55% ofertado pela debênture – sem avaliar que o risco de calote é muito maior e que ao contrário do CDB, as debêntures não constam na lista de investimentos garantidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Outro erro comum do conservador (e também dos perfis moderado e arrojado), é aplicar olhando o “retrovisor” dos investimentos. Ou seja, acreditar que um investimento que rendeu 10% no passado terá a mesma performance no futuro. É importante ter em mente que rentabilidade passada não é garantia de rendimento futuro – guarde essa frase como se fosse um mantra.
Esse tipo de perfil acaba cometendo erros considerados até mesmo ingênuos como não considerar as particularidades de cada investimento, não se informar sobre a carência para resgate, investir por conta própria, não se informar sobre impostos e, claro, aplicar o dinheiro na poupança ou deixá-lo sem aplicação. O investidor pode até ficar feliz com os R$ 100 mil guardados na poupança, porém, se tivesse aplicado suas economias de forma inteligente ao longo dos anos, poderia ter mais do que o dobro desse valor.
Perfil moderado
O perfil moderado pode ser considerado como um mix dos perfis conservador e arrojado. Tem dinheiro guardado, mas não está disposto a correr tanto risco. Por isso, aplica parte dos recursos em investimentos com menor liquidez de olho em retornos financeiros atrativos a médio e longo prazo. A outra parte aplica em investimentos conservadores, que tenham liquidez rápida e possam ser resgatados caso surja algum imprevisto.
Erros do moderado
Um erro muito comum do perfil moderado é seguir o chamado efeito manada, e isso, sem dúvidas, faz com que ele perca boas oportunidades. Ele assiste o movimento de subida da bolsa de valores, mas não investe achando que está tudo muito caro, fica à espera de momentos melhores. A bolsa bate 90 mil, 100 mil, 110 mil, 115 mil pontos e o mercado celebra aos quatro ventos, nesse momento o moderado decide entrar no jogo. Pouco depois, a bolsa cai para 110 mil, 100 mil, 90 mil pontos… Demorou demais, perdeu a onda.
Mais um erro é fazer a diversificação dos investimentos por conta própria sem ficar atento à correlação dos ativos. Um exemplo: a pessoa quer diversificar e acha uma boa ideia aplicar em ações do Bradesco, Itaú e Santander. Atenção, são todas empresas do mesmo setor, papéis com correlação positiva. Isso significa que se uma delas tiver desempenho ruim, as demais tendem a seguir o mesmo caminho, ou seja, no fim das contas a pessoa não diversificou nada e tem uma carteira pouco protegida. Quando o mercado vai mal, a carteira desaba por completo.
Outro deslize do perfil moderado é não analisar taxas. Aplica tudo em um só lugar, pagando taxas altíssimas sem ao menos buscar opções de produtos similares no mercado. Outro destaque fica para o que o economista chama de “transtorno de personalidade” por parte dos investidores moderados. “Eles oscilam entre ser extremamente otimistas até o momento em que se deparam com uma crise que os tornam pessimistas convictos. Logo depois, se uma onda de expectativas positivas chega ao mercado, tornam-se otimistas novamente. Quando leem em algum jornal que é o momento de investir em ações, investem. Agem no impulso e pagam caro por isso”, afirma Louzada.
Perfil do investidor arrojado
Esse perfil tem foco na rentabilidade e possui tolerância ao risco. O arrojado sabe que as oscilações fazem parte do mundo dos investimentos, entende as regras do jogo e planeja suas aplicações com vistas para o longo prazo. Boa parte da sua carteira é composta por renda variável, porém, para ter segurança nas finanças, equilibra com investimentos moderados e conservadores.
Um detalhe importante desse perfil de investidor é que ele não precisará do dinheiro investido em curto prazo, por isso, aguarda o momento mais oportuno para fazer resgates.
Erros do arrojado
Por ter mais conhecimento sobre investimentos do que os perfis conservador e moderado, o arrojado tende a tomar muitas decisões por conta própria, pois acha que sabe mais do que o mercado. Muitas vezes, faz aplicações de forma autônoma sem consultar seu profissional de investimentos, mas na hora que se depara com um erro, questiona o especialista: “Mas por que você não me avisou?”. Tarde demais.
Ainda na linha de investir por conta própria, o arrojado peca ao aplicar em produtos que não conhece muito bem. Muitos investimentos arrojados têm características particulares que o investidor não costuma estudar, o que acaba o expondo a riscos desnecessários. Louzada destaca como produtos arriscados as criptomoedas, small caps e derivativos no geral.
Por último, mas não menos importante, o perfil arrojado muitas vezes acha que é arrojado, até perder dinheiro e se dar conta que é um moderado otimista. Muitos investidores eram considerados arrojados até a pandemia de Covid-19 e a consequente crise econômica. Aparentemente, muitos se descobriram conservadores neste período. Por isso, é muito importante ser transparente nas respostas da análise de perfil do investidor, pois o perfil verdadeiro precisa se sobrepor às questões emocionais na hora de fazer investimentos.